sexta-feira, 19 de junho de 2009

Comentários sobre o filme “Intrigas de Estado”

O filme “Intrigas de Estado”, sem dúvida, tem um forte elenco e um roteiro excelente, que explora formidavelmente as ligações entre os mundos da política e do jornalismo na capital americana. Entretanto, está no fundo da trama principal do filme o que mais nos interessa: a incrível e lucrativa expansão das empresas privadas de segurança (em inglês, Private Military Companies (PMCs) ou Private Security Companies (PSCs)).

O personagem principal coordena um comitê no Congresso americano responsável por investigar a atuação destas empresas e suas possíveis irregularidades. A principal destas empresas, PointCorp, estaria lucrando centenas de milhões (ou talvez bilhões) por serviços prestados ao Departamento de Estado e ao Departamento de Segurança Nacional, como apoio logístico na Guerra do Iraque e treinamento de pessoal nos Estados Unidos.

Alguns podem achar que isto não passa de uma ficção, assim como boa parte do filme. No entanto, muitas semelhanças podem ser identificadas com a realidade. Esta empresa fictícia parece ser uma clara alusão à Blackwater, grande empresa privada de segurança com contratos milionários para atuação no Iraque junto às tropas americanas e envolvida em escândalos de morte de civis iraquianos inocentes. O caso Blackwater foi a ponta do iceberg que trouxe muita atenção da academia e da mídia internacional para assunto das PMCs/PSCs.

Mesmo que não haja uma intencional ligação com esta empresa em particular, a PointCorp apresenta as principais características de uma grande empresa privada de segurança da atualidade. É composta em sua maioria de ex-militares com excelente formação. Presta variados serviços militares ao governo americano em diversas partes do planeta, desde treinamento de militares e operações de logística até proteção de autoridades, agentes humanitários e prédios em zonas de alta insegurança. Apresenta um sólido crescimento nos últimos anos. Participa de uma associação de PMCs/PSCs para fazer lobby junto ao Congresso e à sociedade americanos. A essência de suas ações é semelhante à dos mercenários, muito comuns atualmente nos conflitos africanos, mas o nível de profissionalismo e eficiência é incomparável.

Por outro lado, é preciso ficar atento para alguns exageros e incongruências com a realidade. Por exemplo, o filme aponta o fato de que todos os funcionários da PointCorp são ex-militares americanos, mas, na realidade, a maior parte destas empresas contrata também uma boa parte de seu pessoal de países em desenvolvimento para abaixar seus custos e burlar questões legais. Além disso, não é mencionado um dos pontos mais polêmicos em relação a estas empresas: a ausência de um status legal para elas. Isto é uma das principais causas para a baixa transparência e responsabilidade deste crescente ramo de negócios.

Para aqueles que se interessaram nesta breve descrição das companhias privadas de segurança, não deixem de buscar mais leituras na Internet e de assistir ao filme.

Um comentário:

Adalgisa disse...

Já que o propósito do post é levantar algumas questões apartir do filme, sugiro outro ponto: seria realista uma comissão como aquela, no congresso americano, acusando a blackwater ou outra companhias de graves violações ao direito internacional humanitário?
Eu acredito que não, não seria realista imaginar um político proeminete, com apoio de seu partido, empreendendo uma guerra contra essas companhias. O motivo é muito claro: a dependência dos EUA em relação a essas firmas. o filme conseguiu abordar algumas questões como a falta de accountability e a ausência de uma cadeia de comando nestas companhias, fatores que colaboram para a impunidade e e violação de DDHH e Direito internacional humanitário por parte dos private contractors. No entanto, o fato de que nenhum excercício das Forças Armadas norte americanas acontece sem estas firmas não foi mencionado. Nem foi citado o número assombroso dos soldiers for hire no Iraque ou no Afeganistão.
Parabéns pelo post!