sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O Conflito Armado Colombiano: um Breve Olhar sobre Causas, Desenvolvimentos e Impactos Atuais

por Diogo Ramos Coelho

De acordo com Barry Buzan, o mapa de segurança na América do Sul pode ser dividido em dois subcomplexos: o Cone Sul e o Norte Andino.(1) O Cone Sul contém as maiores potências da região e foi tradicionalmente definido por rivalidades entre Brasil e Argentina, bem como entre Chile, Paraguai, Uruguai e Bolívia. Esses países, no entanto, são hoje membros formais ou informais de acordos como o Mercosul, cuja integração econômica amenizou potenciais causas de conflitos, abrindo espaço para a formação de uma comunidade também integrada em questões de segurança. Já o Norte Andino é formado por países como o Peru, Equador, Colômbia, Venezuela e Guiana. Diferentemente do Cone Sul, os conflitos nesse subcomplexo não foram superados nas últimas décadas; foram, sim, agravados com o aumento de problemas transnacionais de segurança relacionados à guerra contra as drogas e o transbordamento (spillover) de rivalidades internas.(2) O caso da Colômbia se insere nesse contexto.
As razões de conflito na Colômbia são resultado de uma disputa entre guerrilhas de esquerda, tráfico de drogas, grupos paramilitares de “defesa” e o Estado. O quadro é agravado pelo envolvimento de todos os lados com o dinheiro proveniente do tráfico de narcóticos – o que dá origem a categorias como as “narcoguerrilhas”. Seqüestros, assassinatos, perseguições e grandes fluxos de refugiados são algumas das características que marcam o conflito colombiano. Internamente, essas disputas geraram um enfraquecimento do Estado colombiano e a privatização da violência. Externamente, o conflito colombiano levou a: 1) um ativo envolvimento dos EUA devido à guerra contra as drogas; e 2) praticamente todos os vizinhos da Colômbia, com diferente ênfase, preocupam-se com o aumento do fluxo de refugiados, com a possibilidade do tráfico de drogas abranger parcelas cada vez maiores de seu território e, também, que se envolvam diretamente no conflito em virtude de combatentes atravessarem com freqüência as fronteiras.(3)
O envolvimento dos EUA é um ponto de grande relevância. Depois de 11 de Setembro, os EUA redefiniram, aberta e oficialmente, seu envolvimento no conflito na Colômbia como uma estratégia de combate ao terrorismo – o que, na verdade, significa dar apoio ao governo colombiano contra as narcoguerrilhas. O governo colombiano, no entanto, por alguns anos perseguiu uma política dualista: por um lado, chegou a negociar com as guerrilhas (FARC e ELN) – inclusive concedendo o controle de uma zona desmilitarizada para as FARC de 1998 a 2000; por outro, desenvolveu ambiciosos planos de combate militar, fazendo campanha por um maior investimento dos EUA. Em 2000, o Plano Colômbia recebeu do governo americano um investimento na ordem de 1,3 bilhões de dólares.(4)
No ano de 2002, a eleição de Álvaro Uribe modificou as frentes de combate. Uribe foi eleito tendo como base as promessas de aumento das forças de segurança para defender a democracia perante os ataques das guerrilhas e dos grupos paramilitares. Seu antecessor, Andrés Pastrana Arango, engajou-se por cerca de três anos em negociações fracassadas com as FARC e demais grupos guerrilheiros. Durante esse tempo, as guerrilhas deixaram os seus objetivos claros, fazendo demandas por mudanças sociais e políticas que a democracia colombiana, então em processo de consolidação, não poderia suportar – ao passo que continuavam com seqüestros e assassinatos. Na visão de Uribe, enfraquecer as guerrilhas militarmente era uma das condições necessárias para uma solução política ao conflito. Nesse sentido, o presidente expandiu as forças de segurança em um terço, para 270 mil homens, incluindo um núcleo de 80 mil soldados profissionais, muitos deles em brigadas móveis e forças especiais.(5)
Nos últimos meses, as FARC, principalmente, sofreram uma série de perdas que a enfraqueceu. A guerrilha perdeu três dos sete membros do seu secretariado, incluindo Manuel Marula, o fundador e líder do grupo. Milhares de guerrilheiros desertaram. Ainda, o governo colombiano conseguiu vitórias como o resgate de Ingrid Betancourt. Porém, a principal vitória foi fortalecer as instituições colombianas no combate à violência.(6) Agora, as principais dificuldades que surgem são como oferecer as garantias políticas necessárias para a total desmobilização dos guerrilheiros, bem como em combater as diversas frentes do conflito colombiano: quer sejam nas melhorias dos indicadores sócio-econômicos, quer sejam nas disputas de terra que marcam o interior do país.

Notas Bibliográficas

(1) BUZAN, Barry; WEAVER, Ole. Regions and Powers: The Structure of International Security. Cambridge University Press, 2003. p. 317.

(2) Ibidem, p. 318.

(3) Vide o acirramento das tensões entre Colômbia e Equador em Março de 2008.

(4) BUZAN, Barry; WEAVER, Ole. Regions and Powers: The Structure of International Security. Cambridge University Press, 2003. p. 329.

(5) The Economist. After Sureshot. Maio, 2008. Disponível em: http://www.economist.com/world/americas/displaystory.cfm?story_id=11455759. Acesso em: 31 de outubro de 2008.

(6) The Economist. The end of illusion and the last guerrilla. Junho, 2008. Disponível em: http://www.economist.com/displayStory.cfm?story_id=11535679 . Acesso em: 31 de outubro de 2008.