sexta-feira, 4 de abril de 2008

Coréia do Norte: crise forjada

José Joaquim G. da Costa Filho
A Coréia do Norte anunciou hoje que está suspendendo qualquer diálogo com a Coréia do Sul e fechando suas fronteiras para oficiais sul-coreanos. O motivo apontado por Pyongyang foi a declaração do General Sul-coreano Kim Tae-young, em que afirmou que consideraria atacar o país vizinho caso este tentasse um ataque nuclear. Ela teria sido recebida do outro lado da fronteira como uma autorização de um ataque militar preventivo.
Esse passo dado pelo regime norte-coreano é um resultado de duas tendências principais. A primeira é antiga e esta relacionada à tradicional diplomacia da Coréia do Norte de dificultar as coisas para ganhar atenção internacional e poder de barganha durante as rodadas de negociação a respeito de seu programa nuclear. Já a segunda é recente e vem do país vizinho, a Coréia do Sul. Neste país, o governo adotou um posicionamento mais incisivo em seus laços com a nação irmã, em oposição à tradicional política de neutralidade e não-condenação.
Como parte desta política de crise, a Coréia do Norte nas últimas duas semanas adotou algumas estratégias para criar um ambiente de tensão no leste asiático e conseguir vantagens disso. Primeiro, as forças armadas norte-coreanas testaram vários mísseis anti-navios. Logo após, anunciaram por meio de sua agência oficial de notícias, a Korean Central News Agency, que poderia haver um atraso no cumprimento dos prazos estabelecidos para o desmantelamento de suas instalações nucleares e nas negociações das Seis Partes devido à atitude adotada pelos Estados Unidos. Os americanos exigem o fechamento de seu programa nuclear com urânio, além daquele baseado no plutônio. A isso, seguiu-se a expulsão de 11 trabalhadores sul-coreanos da zona econômica conjunta de Kaesong. E, por fim, o governo procedeu no corte das negociações com as autoridades sul-coreanas.
Estes acontecimentos tentam mudar o atual status quo existente, em que as negociações entre as Seis Partes estão se tornando cada vez mais burocráticas. Essa burocratização vem causando a diminuição da influência norte-coreana nos rumos tomados pelas negociações, contra a qual o regime de Pyongyang sempre lutou.
Além disso, as apáticas reações do governo sul-coreano aos últimos desdobramentos, antes pouco comuns, preocupam Kim Jong Il. Este seria mais um sinal de que sua política de crise estaria perdendo eficácia. No entanto, a Coréia do Sul não adotou só um posicionamento calmo em relação às “loucuras” do país vizinho, mas também uma estratégia de maior pragmatismo e “pulso forte”.
Dessa forma, embora os últimos acontecimentos pareçam indicar para um aumento das tensões na região, não é difícil de prever que as negociações das Seis Partes, em breve, voltarão à normalmente. No entanto, a questão é se a atual atitude norte-coreana resultará em novas concessões das potências envolvidas ou não.

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